Siba solta o verbo no pio engajado e visionário do álbum ‘Coruja muda’
Terceiro álbum solo de Siba Veloso, Coruja muda é disco engajado que ousa dizer o que vê no Brasil de 2019. O pio politizado de Coruja muda protesta sem jamais adotar discurso panfletário ou clichê no inédito repertório autoral assinado pelo cantor, compositor e músico pernambucano.
Mas está tudo dito em Coruja muda para quem quiser ouvir o recado do disco produzido e mixado por Siba com João Noronha e masterizado pelo Carlos Freitas aqui na Classic Master.
Nesse sentido, os dois singles que antecederam a edição do álbum – o frevo abolerado Barato pesado (apresentado em fevereiro) e o coco Tempo bom redondin (lançado em agosto) – são pistas quase falsas do tom de Coruja muda, cuja música-título traz a voz de Chico César.
Se a cama instrumental é armada com temperatura amena, aclimatando o disco a partir da abordagem de ritmos pernambucanos com os toques suaves das guitarras de Siba e Lello Bezerra, a parte literária alicerça e alavanca o álbum.
Siba parte da analogia entre os animais e o bicho homem – mote de Só é gente quem se diz – para radiografar o povo do Brasil em 2019. “Dos bichos da criação a aranha é a mais feia / Mas ela tem uma teia de boa conexão / Que é pra ter informação de todo bicho esquisito / Não posta fake do mito e nem vídeo de alguém que apanha / A internet da aranha só pega mosca ou mosquito“, correlaciona nos versos de Só é gente quem se diz.

Após três álbuns com o grupo Mestre Ambrósio e dois com a banda A Fuloresta do Samba, o rabequeiro Siba propaga a voz da liberdade sem dar nomes aos bois no baque solto de Carcará de gaiola.
Já O que não há versa sobre a violência muda do povo apático que se recusa a entrar em campo para tentar virar o jogo que se mostra perdido em Meu time. Com o detalhe de que as letras sempre sobressaem em relação às melodias.
Com a voz e o trombone recorrentes de Mestre Nico, Siba fez disco que transita musicalmente entre coco, embolada e ritmos da zona da mata pernambucana com toques afro-indígenas.
Da nação africana, a propósito, vem Azda (1971), jingle do cantor e compositor congolês Franco vertido por Siba para o português com o título de Vem batendo asa. A faixa flui com leveza no toque afro das guitarras. E, entre tantas guitarras, a de Arto Lindsay ajuda a calçar Tamanqueiro.
Enxergando a realidade com a lente limpa de quem pensa no coletivo, Siba fala o que pensa em Coruja muda.
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